quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Quando a solidariedade supera as dificuldades

Hoje quando estava indo almoçar encontrei um morador de rua com dois cachorrinhos. Um muito filhotinho, o outro já um pouco maior. Os cães estavam devidamente aninhadinhos em cima de um edredom e suas expressões eram de felicidade. Aquela cena me chamou a atenção. Meus colegas de trabalho e eu paramos para conversar com o senhor. Seu nome: Vanderlei. O carinho com que ele tratava seus mascotes me deixou intrigada e curiosa para saber sua história. Tratei logo de pegar o celular e entrevistá-lo. Ele falava bem para um morador de rua. Seu olhar não era de raiva, nem de revolta. Seu olhar era de conformismo. Alguém conformado com a vida que leva e que, dentro do seu limite, ainda possui senso de preocupação e de consideração.

Vanderlei morava em uma vila onde agora está instalada a Arena do Grêmio. A casa foi construída em um terreno de 20x50 metros e cedida por um terceiro. Trabalhava como ajudante de obras e não tinha mulher, nem filhos. Apenas irmãos.

O ex-pedreiro foi preso durante 5 anos por assalto a um super mercado. Segundo ele, a polícia queria que ele admitisse ter participado de mais 15 assaltos, sendo que ele participou apenas de um deles. Por não assumir a participação nos outros e não denunciar os envolvidos, Vanderlei sofreu agressões da polícia como choque elétrico, asfixia e  apunhaladas com metais.

Ele foi uma das 32 mil pessoas vítimas da desapropriação para as obras da Copa (entre elas a construção da Arena do Grêmio e novo estádio Beira Rio). Os moradores da Vila receberam R$ 52 mil reais para a compra de uma casa nova ou o auxílio Aluguel Social, no valor de R$ 400 reais. Das duas formas os moradores deveriam ir em busca de moradias por conta própria. Vanderlei explica que teve dificuldades em conseguir passar a documentação de sua moradia para seu nome, por possuir passagem pela polícia. Além disso, para fazer a documentação ele teria que encontrar o proprietário da casa e arcar com todas as despesas. "Eu teria que deslocar a pessoa até o DEMHAB, pagar cem reais para fazer o contrato de firma registrado em cartório, e ainda arcar com mais toda a documentação. Eu não tenho esse dinheiro", explica.

Por enquanto, ele mora na rua. Mas não desiste de tentar uma negociação com o DEMHAB. Quando pergunto para ele se não prefere dormir em albergues, a resposta é objetiva: "Não. Já fui esfaqueado no último albergue que passei. Existem os caras que se acham donos desses lugares e acabam se incomodando com a presença de estranhos", diz se referindo a outros moradores de rua que frequentam os albergues.

Atualmente Vanderlei ganha a vida recolhendo latinhas e garrafas pet para reciclagem, o que lhe dá um retorno apenas para alimentar ele e seus mascotes. Aliás, esses são personagens especiais! O filhotinho, batizado de Bem Vindo (o catador encontrou o filhote dentro de uma caixa, no lixo do Parque Harmonia) é sapeca e feliz! E extremamente atento aos comandos do dono. Já a maiorzinha é a Pintada. A cadelinha é na verdade de seu irmão, que sofreu agressões de outro morador de rua, e está passando uma temporada com Vanderlei até que seu verdadeiro dono se recupere.

O amor que esse cidadão tem por seus bichinhos é realmente tão emocionante quanto sua história de vida e sua luta pela sobrevivência!

Quem quiser ajudar o Vanderlei com doações de comida, roupas e ração para os cães é fácil encontrá-lo. Ele fica sempre na Getúlio Vargas, esquina com a Bastian, no bairro Menino Deus.





3 comentários:

  1. Que história triste, infelizmente, como tantas outras na nossa cidade. Esse aluguel social é uma piada, de mal gosto!
    Mas é incrível como com tão pouco se Vanderlei ainda consegue é solidários com seus cãezinhos. Gostaria de poder ajudar, ele fica bem perto do meu escritório. Se ele conseguisse pelo menos fazer seus documentos, poderia ter uma chance, né?

    Beijos e parabéns pela matéria.

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  2. Desculpa, escrevi errado: Aluguel social é uma piada de mau gosto!

    beijos

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  3. Márcia, Muito obrigada pelas palavras!!! Beijão

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